Avançar no caminho de felicidade

“Nessa longa estrada da vida, vou correndo e não posso parar....” ♫♪



Avançar... é a isso que o Senhor nos chama: a-van-çar. Palavra que ganha forte sentido quando falamos da nossa relação com Deus. Mas avançar para onde? Avançar em que? São perguntas que não somos capazes de responder, pois não se trata de saber ao certo o caminho, a direção ou onde estamos pisando os nossos pés. Deus revela muitas coisas aos pequenos (Mt 11, 25), mas tudo isso em um tempo que só cabe a Ele conhecer, pois Ele é o Senhor do tempo e Ele é o Senhor do projeto da nossa vida.

Para onde Deus nos chama a avançar e em quais áreas de nossa vida são aspectos muito importantes, mas que nós não precisamos conhecer a fim de prosseguir. Necessário é que nos abandonemos nesse Deus deixando que Ele nos conduza em Sua santa vontade, para onde quer que seja, e estando certos de que esse é o nosso caminho de felicidade. Não há outro. Nossa felicidade está em realizar aquilo que fomos criados para ser: homens e mulheres amados e amadas por Deus e que, como resposta de gratidão, oferecem o seu sim para que Ele venha em nós a amar todos aqueles que habitam este mundo.

E para que esse chamado de Deus se concretize em nossas vidas, é necessário que estejamos muito atentos e vigilantes, pois, para todo aquele que deseja encontrar-se com o Cristo e aderir a Sua santa vontade, ocorre que grandes tentações e obstáculos advêm em seu caminho. Não é a toa que quando Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto, Ele se deparou com o tentador (Mt 4). Também ocorreu que quando os reis magos seguiam a estrela para encontrar o rei dos Judeus, o qual acabara de nascer, eles conheceram a Herodes, um homem que matou a várias crianças de até dois anos de idade com o intuito de aniquilar a vida do Salvador (Mt 2).


Tanto em uma situação como em outra, foi o auxílio do próprio Deus que permitiu que Jesus e os reis magos escapassem a sorte que lhes era esperada, caso se deixassem enganar pelas forças malignas. Cristo venceu as tentações utilizando-se das Escrituras e os outros foram avisados em sonho para não retornarem a Herodes. Com isso, podemos perceber que, a partir do momento em que buscamos nos encontrar com o Senhor e avançar naquilo que Ele projetou para nós, vários são os obstáculos que se colocam em nosso caminho. É preciso então que busquemos incessantemente a proteção de Deus, que, por vezes, traduz-se na própria palavra, grande arma e escudo dados a nós a fim de combatermos o bom combate e nos defendermos de todo o mal lançado contra nossas vidas (Ef 6, 10-20).

Amar para continuar amando

É realmente difícil compreender o amor de Deus. Um amor que mesmo sendo por tantas vezes rejeitado, humilhado, renegado, excluído e ferido, não deixa de amar aqueles a quem tanto O ferem, negam e desacreditam. Podemos pensar no sofrimento que Jesus experimentou ao longo de toda a sua vida na terra, principalmente no momento da espera agoniante no Monte das Oliveiras e todo o caminho do calvário até o alto da cruz, mas também podemos nos remeter às várias dores que lhe são impostas ainda hoje, por aqueles que o rejeitam, humilham, renegam, excluem ou são indiferentes a Ele. Ainda assim, o Amor não deixa de amar.

Grande exemplo de caridade e amor fraterno nos deu o Cristo, o qual foi mais fundo no mistério do amor do que qualquer outro homem que já existiu, existe ou ainda existirá. O fato de Ele ser Deus não impediu que sofresse as dores da humanidade. Talvez, se tivesse ficado indiferente a nós enquanto habitava nesta terra, não passasse por tantas humilhações e rejeições. Mas Ele nunca cansou de nos amar.

Deus sabe o quanto um coração ferido pode ferir também e sabe, como ninguém, compreender o incompreensível, ter compaixão por aqueles que nunca a tiveram com seus irmãos e amar os que não amam nem a si mesmos. Sendo assim, Ele encontrou motivos para continuar amando e se doando mesmo quando tudo contribuiria para que parasse, pois sabia reconhecer um coração ferido e necessitado de amor. Além disso, o amor do Pai era-lhe um sustento maior do que qualquer outro poderia ser. O amor de Deus nos basta para continuarmos com a missão de amar.

Tudo parecia dizer: Pare, não vê que eles não te amam? Não vê que são ingratos e cheios de ressentimento? Outra pessoa poderia se render a dor da rejeição, deixando de lado a missão para isolar-se em si mesmo e buscar a realização das próprias vontades. Tal sentimento é constante em nossa caminhada, ele fala de um determinado viver no qual não cabe a existência do outro, seria ele o próprio individualismo pregado na frase “cada um por si e Deus por todos”. Quando foi que Jesus pregou dessa maneira? Em algum momento ele disse algo minimamente parecido?

É claro que Deus é por todos, mas também precisamos ser assim, por todos. Afinal, Deus nos fez um só corpo na santa Igreja e pensar apenas no que é melhor para mim impede de que eu inclua o outro nos meus pensamentos, olhares, palavras e atitudes. Só o amor de Deus basta, por isso, quando todos parecerem agir conforme esse viver pautado na busca desenfreada pelo prazer individual, que exclui a vivência comunitária e fraterna, voltada para o coletivo, lembremos do amor de Deus e fixemos o nosso olhar no Jesus crucificado, o Amor que se entregou até as últimas consequências.


O amor cura e ele também nos cura para continuarmos amando.

Porque amar é uma doce loucura
Loucura de cruz

Contato, encontro e permanência em Deus


O Senhor nos chama, neste momento, a uma reflexão sobre nossa relação com Ele, de forma que possamos pensar as seguintes questões: como você tem se encontrado com Deus? O que permanece desse encontro em sua vida, nas suas ações, pensamentos e experiências cotidianas? Estamos aqui falando de um relacionamento, o qual, como qualquer outro, pode deixar grandes marcas em nossa existência, de modo que o carreguemos conosco em todos os lugares e situações, ou pode ser como um bom encontro que perdura apenas durante os momentos em que se dá o contato físico ou mais intenso entre as pessoas.

Agora vamos lá: como tem sido o seu relacionamento com Deus? Quanto você tem se deixado tocar pelo amor do Senhor na totalidade de sua vida? Agora pense na sua família, no seu trabalho, nos seus estudos, em você com os seus amigos, na rua e na própria Igreja. Pensar essas coisas nesse instante não deve nos levar a um sentimento de culpa ou dívida, mas nos conduzir simplesmente a uma ciência de nossa relação com Deus e o quanto temos investido nela ou permitido que esta cresça em nós e se torne parte importante de nós mesmos.

A palavra que direciona essa reflexão está em Oséias 11. Nela, o Senhor nos fala como um pai que ama os seus filhos imensamente, mas ocorre que estes se afastaram dele no decorrer de suas vidas por acreditarem encontrar em outros lugares e direções aquilo que verdadeiramente desejavam. No entanto, esse mesmo pai não desiste de seus filhos e não deixa de amá-los. Ele recorda dos tempos em que “segurava-os com laços humanos, com laços de amor” (Oséias 11, 4), tomava-lhes nos braços e os ensinava a andar.


Como na relação com nossos pais, por vezes nos desvencilhamos de Deus e de seus cuidados. Passamos então a viver conforme as nossas concepções e ideias sobre o mundo que nos cerca. Tornamo-nos como que independentes de Deus e alheios à sua vontade. Mas eis que o Senhor não se esquece de seus filhos e não deixa de cuidar deles e amá-los.

A partir desse discernimento sobre a palavra percebemos que, em diversos momentos de nossas vidas, acabamos nos afastando de Deus e nos deixando guiar por nossa própria vontade. Tal situação é muito freqüente, pois acontece que, mesmo que se esteja em oração constante e no serviço ao Senhor, pode ser que não haja uma permanência nEle, ou seja, é um relacionamento intenso, um bom encontro, que proporciona belíssimos frutos e graças de amor, mas que nós não permitimos que perdure e que esteja presente em todas as esferas de nossas vidas, marcando-nos inevitavelmente e definitivamente com uma nova forma de viver e de nos relacionarmos com as pessoas que nos cercam.

O amor é decisão, e permanecer em Deus é uma iniciativa, uma atitude e um esforço de amor de nossa parte. Busquemos um relacionamento duradouro com Aquele em que podemos encontrar a eternidade e o amor incondicional. Ele que nos espera e está sempre pronto a nos conduzir nesses vários caminhos que existem no mundo, de modo a nos permitir encontrar a vida e a verdade em cada canto de nossa existência.

Reencontro


Somos um corpo, o corpo de Deus. Essa é uma das frases declaradas no hino da Jornada Mundial da Juventude de 1993. Como igreja, nós formamos o corpo místico de Cristo, unidos no amor à Ele e em uma só fé. Como igreja, somos também a esposa de Cristo, com quem Ele firmou uma eterna aliança, sendo que esta permanece mesmo nos tempos de nossa infidelidade.

São várias as passagens em que o Senhor se refere à esposa infiel. Em Ezequiel 16, Ele nos fala do tempo em que celebrou a aliança com sua esposa, ainda na época de sua juventude. Ela havia sido encontrada imersa no pecado, perdida e desprezada pelo mundo. Mas o Senhor a olhou e a resgatou do abismo em que se encontrava, purificando-a de toda a  sua iniquidade. A esposa tornava-se mais bela a cada dia, pois em seu coração abundava o amor de Deus. Mas aconteceu que ela se perdeu novamente. Orgulhosa de sua beleza, acreditava não mais precisar de Deus e passou a prostituir-se com outros homens, com outros ídolos.

Apesar de sua infidelidade, o Senhor mostrou-se fiel: “Mas eu me recordarei da aliança que contigo celebrei no tempo de tua juventude, e farei contigo uma eterna aliança” (Eze. 16, 60). Assim acontece conosco em vários momentos de nossa caminhada. Somos como a esposa infiel, acreditando-nos muito virtuosos e belos, deixamos de lado o Senhor para seguirmos sozinhos. Porém, no caminho de nossa auto-suficiência, somos invadidos pelo pecado e nos desviamos do caminho, por não termos mais a Deus como nossa força e nosso auxílio. Mas é nesse momento que o Senhor nos surpreende com Seu amor e misericórdia, pois apesar da nossa inconstância, Ele nos espera pacientemente e nos convida a voltar para seus braços amorosos.

Querido irmão, se você encontra-se afastado e percebe-se como indigno da presença de Deus, lembre-se da aliança que Ele celebrou contigo. Apesar dos seus pecados, Ele te ama e não desiste de você. Espera-o pacientemente e ansiosamente. Procure o Senhor e deixe-se ser encontrado por Ele, permita que Ele te abrace, cure suas feridas, e lhe mostre o caminho de volta. Você pode sentir que Deus está muito longe agora e que não consegue mais alcançá-lO, mas a Sua misericórdia o reaproximará dEle e fará com que possa saborear um doce reencontro com o Amor.



Encontro com Deus nas Escrituras


Neste ano da fé, o sumo pontífice nos convida a realizarmos um aprofundamento da nossa fé a partir de um verdadeiro testemunho de vida, de uma nova evangelização, e do estudo dos conteúdos de nossa fé. No entanto, antes mesmo de tudo isso, é necessário que ocorra “[...] uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo” (Carta apostólica, Porta Fidei). Por essa razão, o ano da fé não proclama apenas a necessidade da busca pelo conhecimento de nossa doutrina e de nossos dogmas, mas fala da necessidade primeira de buscarmos uma intimidade e um profundo encontro com Deus.

A palavra em Romanos 2, 18-21 diz o seguinte: “Mas Tu, que és chamado judeu, e te apóias na lei, e te glorias do teu Deus, tu, que conheces a sua vontade, e instruído pela lei sabes aquilatar a diferença das coisas; tu, que te ufanas de ser guia dos cegos, luzeiro dos que estão em trevas, doutor dos ignorantes, mestre dos simples, porque encontras na lei a regra da ciência e da verdade; tu, que ensinas aos outros... não te ensinas a ti mesmo“. Essa passagem refere-se aos judeus que conheciam a lei, ensinavam-na aos outros e, ainda assim, não a praticavam. Estes homens podem ser chamados hipócritas, pois eles davam falso testemunho e exaltavam-se ao proferir palavras de conhecimento sobre a lei que, na verdade, não haviam aprendido, já que ela não era posta em prática em suas vidas.

Neste momento, mais do que falar da hipocrisia que existe em nosso meio, o Senhor quer nos chamar atenção para o fato de que precisamos viver aquilo que pronunciamos e experimentar o Evangelho que lemos e ouvimos. Pois de nada adianta ensinar aos outros se não ensinarmos a nós mesmos. Deste ponto parte a ideia da nova evangelização: para evangelizar outras pessoas, é preciso que nós nos evangelizemos e busquemos uma nova conversão, é preciso que alimentemos primeiramente a nossa fé a fim de que possamos testemunhá-la e pregá-la aos nossos familiares, amigos e comunidade.

Meus irmãos, para viver a renovação de nossa fé e um profundo encontro com o Cristo, não precisamos buscar novas estratégias ou diferentes formas de rezar, basta apenas redescobrir a palavra de Deus, pois nela o Senhor nos fala profundamente e nos leva a ter uma fé renovada pelo poder do Seu Espírito. As Escrituras são mesmo como a logomarca do ano da fé, que nos mostra um barco no qual o mastro é a cruz de Cristo e as velas são o próprio Jesus. Deixemo-nos plasmar pela palavra de Deus, assim como recomenda o papa Bento XVI na carta apostólica “Porta Fidei”, e façamo-nos como esse barco guiado por Jesus Cristo que nos revela Sua vontade por meio das Escrituras.

Obedecei a Deus e sede luz para as nações


Neste texto quero falar-vos da obediência, de quão numerosas graças nos são dadas por meio desse ato de fé e de quanto nós crescemos na própria fé e no amor a Deus quando nos dispomos a fazer em tudo a Sua vontade.

É muito conhecida a fidelidade de Maria para com a vontade do Pai. Sabemos, pela palavra, que a Virgem do silêncio foi uma serva muito obediente aos desígnios do Senhor. Também é de nosso conhecimento que Maria sofreu muito ao longo de sua vida, sofreu a desconfiança de José em relação a sua virgindade, sofreu a rejeição por parte dele, sofreu a incredulidade do povo em ter Jesus como o Messias, o Salvador, e sofreu a morte de seu filho único que foi chicoteado, ferido, humilhado, chagado e crucificado. No entanto, sabemos que essa mesma Virgem recebeu inúmeras graças: recebeu em seu ventre o Salvador, foi escolhida para ser mãe do Messias e de todos nós, foi elevada ao céu em corpo e alma e foi proclamada Rainha de todos os anjos e santos.

Por meio do exemplo de Maria, e de tantos outros profetas, podemos perceber como é difícil seguir a Deus, mas também o como é recompensador fazer a Sua vontade. A palavra em Isaías 49, 1-6 vem falar que o Senhor chamou o servo desde o seu nascimento, ainda no seio de sua mãe. O senhor diz: “Tu és meu Servo (Israel), em quem me rejubilarei”. A ele foram dados todos os instrumentos necessários para que reunisse Israel e trouxesse de volta Jacó ao Senhor. O servo sofre, ele diz: “Foi em vão que padeci, foi em vão que gastei minhas forças”. Contudo, em seu Deus estava depositada a sua recompensa e a sua justiça. O Pai então lhe cobre de graças e o enche com a força do alto: “vou fazer de ti a luz das nações, para propagar minha salvação até os confins do mundo”.


Enquanto rezava, o Senhor me dava a moção de uma rosa com todo a sua beleza. A rosa é uma flor, como tantas outras, que sofre as intempéries do tempo e as dificuldades impostas ao seu crescimento. Mas essa flor mostra, com sua suavidade e força, a sua obediência. Ela obedece ao tempo de seu cuidador ou da própria natureza. Ela espera ser regada, espera ser podada, espera o sol, a chuva, o vento e todas as outras coisas. Por vezes a rosa pode se deparar com dificuldades: onde está a água que não vem? Onde está o sol nesse céu nublado? Mas ela continua suportando as demoras do tempo e mesmo de Deus. A flor não sai de seu lugar para procurar aquilo que lhe falta, ela espera obedientemente o tempo e a vontade daquEle que a criou.

Assim também precisamos ser, como a rosa, precisamos suportar as demoras de Deus e esperar que seja feita a Sua vontade. Por vezes, não adianta nos revoltarmos e nos levantarmos contra o mundo, não adianta querermos mudar, imediatamente, a situação que nos é imposta. A palavra traz um exemplo muito claro disso em Mateus 17, 23-26: Jesus sabia que os filhos do rei não precisavam pagar o imposto retratado naquela situação, por essa razão, Ele, como filho de Deus, não estava sujeito a tal obrigação. Porém, o Cristo não quis se levantar contra essa realidade, Ele não quis escandalizar e nem entrar em conflito com as autoridades legais, mas preferiu mostrar respeito diante delas.  Por isso, pagava todos os tributos que lhes eram exigidos.

Podemos tomar o exemplo de Jesus para a nossa vida: por mais que no mundo existam injustiças, por mais que sintamos que não devemos obedecer a certas exigências em determinadas situações, é necessário que estejamos em sintonia com a vontade de Deus e que sejamos obedientes ao que Ele quer de nós. Portanto, pode ser que não seja o momento de nos manifestarmos contrariamente ao que está ao nosso redor, pode ser que não seja a hora e nem o momento certo. É preciso que escutemos a voz do Senhor a fim de que Ele nos revele o que quer que façamos em nossa vida a todo instante, em cada ocasião e em cada dificuldade. Sejamos obedientes, assim o Senhor nos dará graças muito maiores do que as pequenas coisas que poderíamos alcançar com nossas lutas meramente humanas e só assim teremos a certeza de que estamos fazendo aquilo que é verdadeiramente bom, e seremos luz para as nações.

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